Os processos políticos municipais costumam ser marcados por debates ligados às questões de zeladoria, com a população e os candidatos debatendo o calçamento das ruas, a limpeza das praças, a trafegabilidade das estradas, a eficiência dos serviços de educação e saúde, entre outros temas. Isto em um contexto de normalidade política, lógico. Mas normalidade política não parece ser uma expressão que se aplique às eleições municipais 2024 em Marechal Floriano, a começar pela quantidade de pré-candidatos "fortes" que se apresentam e postulam o posto de chefe do executivo: 6, até o presente momento!
Este cenário político, uma conjugação de fatores conjunturais da ordem do imponderável, como a encerramento do "ciclo Cacau Lorenzoni", pode ser caracterizado como explosivo, posto que se abre uma janela de oportunidades para forças políticas cuja força esteve estancada na vigência do consenso criado no entorno do atual prefeito, cujo carisma desencorajava os arroubos da oposição, tanto quanto as insinuações de protagonismo dos aliados.
Mas parece que diante do final dessa "temporada política" de 8 anos, onde o prefeito Cacau Lorenzoni manteve uma quase unanimidade, com fraca contestação de sua liderança política, a impossibilidade de uma nova candidatura do prefeito abriu espaço para que aliados e opositores vislumbrassem uma daquelas raras oportunidades de vácuo político nas quais um novo protagonista político pode surgir. É bem verdade que Cacau tenta manter sua liderança, mobilizando seu capital político na tentativa de transferir votos para seu afilhado, Felipe Hülle Delpuppo (MDB), trazendo para o jogo político da cidade, inclusive, a influência do governador do estado, Renato Casagrande (PSB) e do Vice-governador, Ricardo Ferraço (MDB). Ainda assim, voto é voto, transferência de voto é já algo um pouco mais complicado.
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O vereador Felipe Delpuppo é o pré-candidato do Prefeito Cacau Lorenzoni à chefia do Executivo Municipal Foto: divulgação Facebook |
E apostando nesta discrepância entre o voto e sua transferência, as forças políticas do município se mobilizam para tentar encontrar seu lugar ao sol, algumas tentando transportar para o pleito municipal a onda de polarização nacional entre o bolsonarismo e o lulismo. É o caso das três candidaturas bolsonaristas - Lidiney Gobbi (PL), Diony Stein (Podemos) e Maylson Littig/Drª Gelcilene (ainda em busca de sigla) - e da candidatura lulista, que corre sozinha na faixa eleitoral de centro-esquerda - Reginaldo Penha (PT). E por fora, ainda, corre a candidatura ideologicamente mista do vice-prefeito Cabral (PSDB), que apesar de ter apoiado Lula em 2022, não esconde seu grupo político composto por figuras bolsonaristas proeminentes, como Vandinho Leite, presidente de seu partido e fiador de seu protagonismo no ninho tucano.
Pois é nesse caldo em alta fervura que os primeiros movimentos políticos começam a acontecer. Um desses movimentos é a luta pela adesão do atual presidente da Câmara Municipal, Cezinha Ronchi (que está deixando o ninho tucano ainda com destino incerto). Repleto de ingredientes políticos multiformes, que vão do agrado aberto à chantagem política e ao denuncismo politiqueiro, como foi o caso de uma servidora que publicou vídeo em sua rede social com fake news sobre a participação do presidente da Câmara no aumento de seu próprio salário; ou com a a mobilização dos funcionários públicos e da população para atacar o presidente da Câmara na votação do aumento dos salários dos procuradores municipais, após instação do Ministério Público para que se fizesse cumprir uma lei de isonomia entre os poderes; a adesão do chefe do legislativo municipal parece ter-se convertido em fetiche dos candidatos, com base naquele paralelo do "ou será meu ou não será de ninguém!". Objetivamente, essa luta pelo apoio de Cezinha Ronchi se deve ao seu protagonismo político à frente da gestão da Câmara nos últimos anos, onde realiza um trabalho reconhecido tanto pelos servidores, cuja inegável valorização e qualificação precisam ser reconhecidos, quanto pela prestação de serviços à comunidade que a Câmara passou a realizar, como os serviços de acesso ao INSS, ao Detran, à Receita Federal, à Justiça Eleitoral, à defesa dos direitos dos animais e à defesa dos direitos e à proteção à mulher, entre outros, que facilitam a vida da população florianense.
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O apoio de Cezinha Ronchi tem sido disputado pelos candidatos a prefeito pelo reconhecimento de seu desempenho à frente do legislativo municipal Foto: Cícero Modolo |
Então, as eleições 2024 em Marechal Floriano já começaram em alta temperatura e prometem muitas emoções. Acompanhemos os novos lances e torçamos para que os movimentos pouco éticos que aparecem aqui e ali logo se dissipem e que o processo seja limpo, como demanda a postura democrática.